Tese

O mundo editorial está recheado de alternativas, umas mais especializadas, conhecidas ou intrigantes do que outras – mas todas, em princípio, assumindo o mesmo compromisso com a divulgação (e monetização) da nobre arte da escrita. Mesmo que as pessoas vivam na era dos e-books, que podem ser encontrados facilmente na Internet, como as pessoas também podem jogue gonzos quest online, publicar livros ainda é importante. Que a publicação de obras livrescas, processo delicado e custoso, esteja assim sujeita às leis do mercado, constitui um corolário que não nos resta senão aceitar estoicamente – pois se até mesmo a celebradíssima J.K. Rowling viu rejeitado o seu manuscrito de Harry Potter e a Pedra Filosofal por nada menos do que 12 editores! 

O que, todavia, sugere que nem mesmo os nomes mais consagrados da indústria estão imunes a uma maleita popularmente designada por «vistas curtas». Razão pela qual, vislumbrando uma centelha de luz através dessa exígua nesga de possibilidade, mais e mais escritores ao redor do mundo vão tomando a iniciativa editorial nas suas próprias mãos, contornando meses de espera e, não raras vezes, investimentos avultados e incompensáveis.

Antítese

Só que as edições de autor não são exactamente uma panaceia ou um oásis de verdume na infinita agrura do deserto, e a singeleza de que se revestem amiúde resvala num poço frio de desalento. Isto porque, à semelhança do que acontece com os publishers, também os autores, inclusivamente os mais anónimos, costumam acalentar o íntimo desiderato de conquistar a emancipação económica por intermédio da produção literária. E se estes censuram a estreiteza ou a avidez daqueles, a verdade é que, tarde ou cedo, esbarram de frente com a realidade e num ápice compreendem por que razão o prelo não se encontra destinado a todo e qualquer um de nós.

De resto, nem mesmo a edificação de uma obra esteticamente inovadora e digna de nota conduz necessariamente a um proveito financeiro substancial. Que o diga Edgar Allan Poe, um dos mestres do conto moderno e autor de poemas como O Corvo ou Ulalume, que, consagrado exclusivamente à criação literária, conduziu até à sua morte uma existência comumente marcada por carestia. 

Quer tenhamos em mente um original, uma adaptação ou uma tradução, devemos ademais contar com o contributo invisível de um factor chamado timing, inelutável força contra a qual embalde combatemos. Convenhamos: qual o valor do ouro num mundo de cegos?…

Síntese

Mas se as perspectivas de rentabilidade e reconhecimento não se tornam mais promissoras diante da autonomia da autopublicação, ao menos somos convidados a admitir que, se a Arte subsiste além ou apesar dessas esferas, então é porque mana de uma nascente própria, inviolável, em que guardiães se perfilam desde tempos imemoriais tendo em vista a conservação de um tesouro incalculável – o da criatividade –, condição suficiente e necessária de toda e qualquer construção literária.

Enfim… é mesmo complicado, não é?